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O “Ágio”, ou “Preço de Emissão” no contexto das Sociedades Comerciais

No contexto das sociedades comerciais, o ágio, também conhecido como prémio de emissão ou prémio de subscrição, desempenha um papel crucial na capitalização e valorização do capital social. Esta figura é aplicável tanto às sociedades anónimas (SA), às sociedades por quotas (SQ), como às sociedades unipessoais por quotas (SUQ).

O que é o Ágio?

O ágio é a diferença entre o valor que um sócio (quotista ou acionista) paga para subscrever uma participação social (quota, ação ou parte) e o valor nominal dessa participação. De forma simplificada, é o sobrepreço pago pelo sócio em relação ao valor nominal da quota ou ação. Por exemplo, se uma ação tem um valor nominal de 10 euros e é subscrita por 15 euros, o ágio é de 5 euros.

Definição Legal e Contabilística

De acordo com o Código das Sociedades Comerciais (CSC), o ágio pode ser definido da seguinte forma:

  1. Emissão de Ações: Para ações emitidas em dinheiro, o ágio é a diferença positiva entre o valor nominal da ação e o montante pago pelos acionistas. No caso de ações sem valor nominal, é o montante do capital correspondente emitido.
  2. Entradas em Espécie: No caso de entradas em espécie, o ágio corresponde à diferença entre o valor atribuído aos bens e o valor nominal das ações emitidas.
  3. Obrigações Convertíveis: O ágio também pode surgir na emissão de obrigações com direito de subscrição de ações ou de obrigações convertíveis, sendo a diferença positiva entre o valor de emissão e o valor pelo qual foram reembolsadas.

Razão de Existência e Finalidades do Ágio

A principal razão para a existência do ágio é que o valor real das quotas ou ações pode ser superior ao seu valor nominal. Esse valor real pode ser determinado de várias formas:

  • Valor Contabilístico: Refere-se à proporção do valor nominal das quotas ou ações em relação ao capital próprio da sociedade.
  • Valor de Mercado: Inclui não apenas o valor contabilístico, mas também fatores como a posição de mercado da empresa, aquisição de ativos estratégicos, e o goodwill da empresa.
  • Valor de Cessão: É o valor pelo qual os sócios atuais estão dispostos a vender suas participações a novos sócios.

Além disso, o ágio pode servir para cobrir os custos operacionais associados à emissão de ações, embora este uso seja acessório e mais comum nas sociedades anónimas.

Tratamento Contabilístico e Regime da Reserva Legal

Contabilisticamente, o ágio deve ser inscrito na rubrica do capital próprio da sociedade. Pode constar das seguintes sub-rubricas, dependendo da situação:

  • Reservas Legais: Quando a reserva mínima legal ainda não está totalmente constituída.
  • Outras Reservas: Caso existam outras reservas que não estejam totalmente constituídas.
  • Prémios de Emissão: Quando a reserva legal está totalmente constituída, ou quando não há outras reservas estatutárias ou estas estão já completamente constituídas ou reintegradas.

O ágio está sujeito ao regime da reserva legal, que estabelece que uma percentagem mínima dos lucros da sociedade deve ser reservada para cobrir prejuízos ou para incorporação no capital social. O ágio só pode ser utilizado para:

  1. Cobrir prejuízos no balanço que não podem ser cobertos por outras reservas.
  2. Cobrir prejuízos transitados que não possam ser cobertos pelo lucro do exercício nem por outras reservas.
  3. Ser incorporado no capital social da sociedade.

Exceções a este regime podem ser previstas em Portarias dos Ministérios das Finanças e da Justiça, que podem dispensar algumas reservas constituídas pelo ágio.

Ágio nas Diferentes Sociedades Comerciais

O ágio pode ocorrer em diferentes tipos de sociedades comerciais, incluindo:

  • Sociedades Anónimas (SA): É comum em aumentos de capital social e refere-se a ações emitidas acima do valor nominal.
  • Sociedades por Quotas (SQ): Também pode ocorrer, embora seja menos frequente comparado às sociedades anónimas.
  • Sociedades Unipessoais por Quotas (SUQ): A figura do ágio é igualmente aplicável.

Durante a constituição de uma sociedade ou em aumentos de capital, o ágio pode ser utilizado para revalorizar a participação social quando o valor de mercado ou o valor real das participações é superior ao valor nominal.

Em síntese, o ágio é uma ferramenta importante na gestão do capital das sociedades comerciais, permitindo que o valor real das quotas ou ações seja refletido adequadamente no capital próprio da empresa. A sua aplicação e o seu tratamento contabilístico são regulados pelo Código das Sociedades Comerciais e estão sujeitos a regras específicas, incluindo a reserva legal. Compreender a figura do ágio é essencial para uma gestão financeira eficaz e para a tomada de decisões estratégicas nas sociedades comerciais.